
A revolução dos bichos — Nem todo grito por liberdade termina em libertação. Às vezes, só muda quem segura o chicote.
Um clássico necessário (e ainda muito atual)
A Revolução dos Bichos é, sem dúvida, um clássico representativo da literatura moderna. E, para mim, um dos melhores livros distópicos já escritos.
Com toda certeza, essa é aquela leitura que parece simples, mas carrega uma crítica poderosa nas entrelinhas.
A princípio, A Revolução dos Bichos apresenta uma proposta interessante. Animais de uma fazenda se rebelam contra os humanos em busca de liberdade e igualdade. Inicialmente, tudo parece promissor. Contudo, à medida que o tempo passa, a realidade se impõe e os ideais começam a se perder.
Orwell usa uma fábula — com animais como protagonistas — para abordar temas profundos e extremamente relevantes.
SINOPSE

Após se rebelarem contra os humanos, os animais da Fazenda do Solar assumem o controle em busca de igualdade e liberdade. Mas com o passar do tempo, alguns começam a se assemelhar cada vez mais aos antigos opressores. Uma fábula poderosa sobre poder, manipulação e o ciclo das revoluções.
Nota: 5/5 ⭐⭐⭐⭐⭐ | Editora: Companhia das Letras | Gênero: Ficção distópica; Fábula; Sátira politica
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Muito além de um lado político
Sem entrar em viés político — até porque sabemos que essa obra vai muito além de um lado ou outro —, é evidente que há uma crítica clara no pano de fundo.
No entanto, o que mais se destaca é o alerta sobre o perigo do poder absoluto. Ao longo da narrativa, observamos medidas autoritárias, discursos doutrinadores e políticos com falsas promessas. São elementos que sempre existiram e, infelizmente, continuam presentes.
E isso que torna essa leitura tão atual. Orwell retrata de forma brilhante como regimes usam mecanismos de controle para se manter no poder, tratando o povo, literalmente, como animais.
Não por acaso, observou um crítico literário: “a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens”. De fato, essa frase resume com precisão a essência de A Revolução dos Bichos.
A igualdade que virou privilégio
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.”
Um questionamento muito importante que o livro nos convida a fazer é sobre o senso de justiça e igualdade. No início da revolução, o grande ideal era ser liderado por “um dos nossos”, com a crença de que alguém do próprio grupo entenderia melhor as necessidades coletivas.
E isso reforça a ideia de representatividade, tão valorizada em movimentos sociais. Mas, ao longo da narrativa, esse ideal se distorce. A famosa frase “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros” marca a virada cruel da história: a igualdade prometida se transforma em privilégio para poucos.
Com o desenrolar da história, percebemos como alguns líderes, apesar de surgirem com ideais nobres, acabam, ironicamente, reproduzindo exatamente aquilo que prometeram combater.
O poder que corrompe, mesmo entre os nossos
Orwell nos provoca a pensar que, muitas vezes, não basta ser “um dos nossos”. Se o poder não for compartilhado com responsabilidade e consciência coletiva, ele corrompe até quem tinha boas intenções.
Isto é um alerta sobre como a desigualdade pode nascer até dentro de uma revolução e como o discurso pode ser usado para justificar abusos, criando uma nova elite, mesmo entre os oprimidos.
Ignorância como ferramenta de dominação
E algo que me chamou muita atenção foi a forma como a falta de alfabetização dos animais comprometia a luta pelos ideais. Por não saberem ler nem questionar, eles ficavam à mercê do que seus líderes diziam. Pois, não tinham capacidade de argumentar e não conseguiam entender o que realmente estava acontecendo.
É notavel, que a revolta dos animais, que começou com esperança, aos poucos toma rumos inesperados e a ideia de liberdade vai sendo distorcida com o tempo.
A obra revela a fragilidade da consciência coletiva.
Expõe como a ignorância pode silenciar e manipular o povo, e como o medo e a esperança são usados como ferramentas de dominação.
“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.“
Uma fábula que fala com adultos
Mesmo com uma aparência leve — afinal, é uma fábula com personagens animais. O conteúdo é denso e extremamente reflexivo para nós, adultos. Pois, a narrativa aborda temas como totalitarismo, revolução, manipulação de massas. E além disso, retrata o medo como ferramenta de dominação.
Mesmo após tantas décadas, ainda conseguimos nos enxergar em situações políticas e sociais semelhantes. Por isso, esse livro segue tão atual, incômodo e necessário.
Minha impressão final
Para mim, esse é um daqueles livros que provocam reflexões duradouras. Apesar de curto, ele permanece na mente por dias e levanta questões relevantes sobre a realidade em que vivemos.
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